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O que conhecemos como depressão

  • Foto do escritor: Camila Dias
    Camila Dias
  • 5 de fev.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de out.

Não posso começar um texto acerca do tema da depressão sem um apontamento que considero de extrema importância:


Nós vivemos em uma época em que a tristeza tem sido cada vez mais malvista, quase como uma falha a ser corrigida, um erro de percurso na busca incessante por felicidade. Estamos submetidos à uma lógica que nos cobra constante produtividade e bem-estar, nos vendendo a ilusão de que qualquer abatimento precisa de um remédio imediato. Mas a verdade é que momentos tristes fazem parte da vida.


Sentir-se para baixo diante de uma perda, decepção ou mudança, por exemplo é uma resposta humana, não um sinal automático de doença.


Por outro lado, não é necessário um diagnóstico formal ou a espera por uma intensificação do sofrimento para buscar por apoio e psicoterapia, e eu também abordei um pouco sobre isso AQUI.


Tendo isso em mente, existem sim situações em que um sofrimento se prolonga, se intensifica e pode inclusive se tornar incapacitante, adentrando o campo do que conhecemos como DEPRESSÃO (e que, assim como a ansiedade que tratei em texto anterior, é apontada pela Organização Mundial de Saúde como uma epidemia mundial).


  O Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR) ao tratar dos transtornos depressivos aponta como característica comum a presença de humor triste, vazio ou irritável e alterações nítidas no afeto, cognição e em funções neurovegetativas.

Alterações no afeto significa que há mudanças no modo como o sujeito sente e expressa suas emoções. Na cognição trata-se de alteração nos pensamentos, atenção, memória, autoavaliação e, alterações em funções neurovegetativas significa mudança nos aspectos como sono, energia e sexualidade. Não é só sobre tristeza.


Na pratica clinica, em geral, a queixa vem descrita como um sentimento generalizado, um profundo afundamento, rebaixamento de humor, desânimo, falta de interesse, tristeza, irritabilidade e exaustão, sem atribuição de uma causa ou um rótulo específico à experiência.

As alterações que são descritas no DSM podem combinar-se das mais variadas formas e trago isso para enfatizar que a depressão não é um fenômeno homogêneo. Esse termo, na realidade, abrange uma pluralidade de sintomas e significados, que variam de acordo com a singularidade de cada sujeito.


"É esse exatamente o primeiro traço biográfico da Depressão. Ela tem tantos nomes que não podemos saber exatamente se é uma única entidade ou várias. Ela foi descrita por tantos pontos de vista diferentes que não sabemos se tem uma única personalidade ou se é uma personalidade múltipla e mutante"

Christian Dunker


Para o tratamento da depressão contamos hoje com a possibilidade de medicação, que é de extrema importância e relevância quando feita com responsabilidade e a partir da prescrição e acompanhamento de bons profissionais. O uso de fármacos em algumas situações pode salvar vidas.

No entanto existe, e é muito forte no cenário contemporâneo, o fenômeno de uma supermedicalização: sob o efeito de um uso indiscriminado de fármacos, muitos buscam alívio imediato e completo distanciamento de seu sofrimento, evitando questionar as raízes de seu mal-estar e perdendo a oportunidade de transformar sua relação com o sofrimento e encontrar novos caminhos para lidar com a vida.


A verdade é que a medicação cumpre uma função importante de alteração na química do nosso corpo, mas lembra que a depressão também apresenta alterações no afeto e na cognição? Então, uma vez que existem questões referentes à nossa forma de sentir, de expressar e de pensar, é preciso considerar a psicoterapia como parte essencial do tratamento da depressão.


A psicoterapia não atua apenas sobre os sintomas e não elimina a dor de forma instantânea, mas faz algo muito importante: possibilita que algo se transforme.

 

 Psicoterapia é o espaço onde o sujeito pode falar e, sobretudo, escutar-se. E é justamente nesse processo que algo do sofrimento pode ganhar sentido, dentro da história singular de cada um, com seus impasses, perdas, ideais, conflitos e modos de se relacionar consigo e com o mundo.

  

Investir em psicoterapia para o tratamento da depressão é reconhecer que estamos diante de muito mais que um diagnóstico simplificado e então tratá-lo como o fenômeno complexo que é, carregado de significados e construído (também) a partir da história de cada indivíduo.



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