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Por que a felicidade parece sempre escapar?

Foto do escritor: Camila DiasCamila Dias
"Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura - nada menos que a quimera da felicidade - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão."

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (1881)



Ao ler Memórias Póstumas recentemente me encantei com esse trecho do texto. Nele, Machado com sua profundidade e ironia, captura como poucos a relação do ser humano com a felicidade: uma perseguição incessante e, muitas vezes, frustrante. Sua descrição de uma felicidade feita de “retalhos” fala de algo que parece sempre incompleto, inalcançável, ou que, quando brevemente capturado, dissolve-se entre os dedos.

Além de considerar o trecho extremamente bonito, percebi que essa descrição dialoga perfeitamente com a visão de Freud, anos depois, em O Mal-estar na Civilização. Freud aponta essa busca pela felicidade como central à condição humana, não nos sendo possível abandonar os esforços em sua direção — mas trata-se também de uma busca inevitavelmente marcada por limitações e conflitos.


Estamos falando de obras de 1881 e 1930, mas a busca pela felicidade é um tema que atravessa séculos e culturas e está longe de ser simples. Vivemos entre o desejo de prazer e as exigências da realidade, enfrentando limites que parecem frustrar nossos anseios mais profundos. Será que estamos fadados a nunca alcançá-la?


"O programa de ser feliz, que nos é imposto pelo principio do prazer, é irrealizável, mas não nos é permitido - ou melhor não somos capazes de -abandonar os esforços para de alguma maneira tornar menos distante a sua realização. Nisso há diferentes caminhos que podem ser tomados..."

Sigmund Freud


Freud nos ajuda a compreender que a felicidade que perseguimos está intimamente ligada ao desejo de evitar o sofrimento e buscar a satisfação, mas que a realidade, com suas imposições e limitações, frequentemente nos impede de alcançar esse ideal. Ele nos lembra que três grandes forças atuam contra nossa felicidade:


  • O corpo, sujeito a dores, doenças e ao próprio passar do tempo.

  • O mundo externo, repleto de circunstâncias fora de nosso controle.

  • E os relacionamentos, que, embora fonte de prazer, também nos expõem a conflitos e perdas.


A própria civilização, essencial para a convivência humana, exige renúncias. Precisamos equilibrar nossos desejos com as regras e expectativas da vida em grupo — um compromisso que, muitas vezes, gera conflito interno.


Se o ideal de uma felicidade plena e constante é irrealizável, mas não podemos deixar de buscá-lo, então, como podemos lidar com isso?

É preciso, primeiro, compreender que a felicidade não é um destino, mas uma construção feita de momentos, de pequenas escolhas, de modo a tornar possível encontrar um sentido mais pleno em nossas experiências. Além disso, não devemos esquecer que os seres humanos são diversos, singulares e que, portanto, nessa busca não haverá uma regra geral ou caminho que valha para todos.


No sentido moderado em que é admitida como possível, a felicidade constitui um problema da economia libidinal do indivíduo. Não há, aqui, um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz."

Sigmund Freud


Por fim, se você sente que a busca pela felicidade tem sido um labirinto, com apoio profissional você pode descobrir e iluminar caminhos antes desconhecidos. A psicoterapia é justamente o recurso mais poderoso para mergulhar nesse processo de entender nossos próprios desejos, enfrentar as limitações da realidade e encontrar formas autênticas de satisfação.

Dente de leão: quando a flor é soprada, ela se desfaz com facilidade.

 
 

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Psicóloga Camila Dias

CRP 06/124348

©2023 por Camila Dias. 

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