Na era da informação instantânea e das redes sociais, a saúde mental se tornou um tema amplamente discutido e difundido, inclusive permeando as conversas cotidianas.
Quem, hoje, não conhece alguém que se identifica com algum diagnóstico, referindo-se como alguém traumatizado, deprimido, borderline, que sofre transtornos de ansiedade, desatenção e hiperatividade?
Traumas, limites, depressão, ansiedade e outros termos do universo terapêutico infiltraram-se no vocabulário comum e na grande maioria das vezes são utilizados de maneira superficial, sem uma compreensão plena de suas nuances e significados clínicos.

Na contramão da grande quantidade de informações difundidas nas redes, sejam elas boas ou não, da crescente conscientização e da disponibilidade de recursos terapêuticos, ainda observo uma resistência persistente à busca por atendimento profissional especializado.
Essa divulgação e até terapeutização da cultura e das relações, embora traga à tona importantes discussões sobre saúde mental, também vem gerando uma identificação excessiva com diagnósticos aliada a uma simplificação dos desafios emocionais e psicológicos enfrentados pelas pessoas. O que eu quero dizer é que: a partir do acesso a informações de forma simplificada, muitas pessoas passam a crer que conseguem compreender e lidar sozinhas com questões que na verdade são muito mais complexas do que é possível abordar em frases curtas ou vídeos de 30 segundos.
Acreditar que melhorar a saúde mental com dicas online é possível, pode te fazer não buscar um profissional, atrasar o processo de tratamento e as vezes até piorar sua condição atual.
"Aqui, como em qualquer campo, para grandes transformações se exige grande labuta"
Freud, Estudos sobre a Histeria, p. 391
Cito essa frase de Freud, pois ele próprio, pioneiro na forma de psicoterapia que conhecemos hoje (onde se enfatiza a importância da expressão verbal e da escuta empática como elementos-chave do processo), ao apresentar o método terapêutico que desenvolveu, relata também as dificuldades e o grande trabalho exigido ao profissional para se alcançar realmente resultados no tratamento dos pacientes.
A psicoterapia envolve considerar e saber dominar obstáculos psíquicos como a resistência, que se manifesta como a oposição do paciente em abordar conteúdos emocionalmente dolorosos; o recalque, mecanismo de defesa que mantém no inconsciente aspectos indesejados; a transferência, fenômeno complexo no qual o paciente projeta sentimentos e experiências passadas no terapeuta; e a contratransferência, reações emocionais do terapeuta que podem interferir no processo terapêutico se não forem compreendidas e trabalhadas adequadamente. Dominar esses obstáculos requer habilidade clínica, empatia, compreensão profunda da dinâmica psíquica e um comprometimento constante com o processo terapêutico.
É, portanto, de extrema importância reconhecer a necessidade de buscar apoio especializado para lidar com as complexidades emocionais e psicológicas que enfrentamos.
Que bom que existem informações disponíveis de forma acessível, mas compreender e enfrentar questões profundas de saúde mental demanda mais do que diagnósticos superficiais ou conselhos rápidos. É na relação terapêutica, na escuta empática e na compreensão profunda dos processos psíquicos que encontramos o caminho para verdadeiras transformações.
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